A costa leste dos Estados Unidos é o local de origem das chamadas “uvas americanas”, e talvez por isto, a produção de vinhos na região ainda hoje é associada a produtos mais comuns, inclusive de castas híbridas. O clima estival úmido e os invernos muito frios dificultam a vida das viníferas, mas a paixão vence obstáculos, e mais recentemente, vinhos de castas européias começaram a aparecer com força, em todos os estados da costa atlântica. Mas a produção é pequena e a distribuição, ainda menor. Para provar tais vinhos, é preciso ir lá. Foi o que fizeram os confrades Carla Porto e Jaime Oliveira, que não só foram a Vermont, mas ainda trouxeram as garrafas para compartilhar com os confrades da quinta-feira, em memorável degustação em 25 de outubro de 2012.
Vermont é um estado de invernos rigorosos, e nem todas as castas européias se dão bem, o que não foi obstáculo para a obtenção de bons produtos.
Todos os produtos apresentados são de elaboração da Boyden Valley Winery, da cidade de Cambridge, considerada nos últimos anos a melhor vinícola do estado. A degustação foi às cegas, em dois momentos.
Primeiramente, os associados tiveram que apreciar três vinhos, dando notas e sua opinião sobre as cepas. Os vinhos foram os seguintes, com os preços já convertidos para reais diretamente do valor pago em dólares na fonte (obrigado, confrades Carla e Jaime!):
1. Cowtipper, vinho branco semi-seco da casta Le Crescent. 12º, não safrado, R$ 33,00. Vinho muito agradável, não muito doce, às cegas houve opiniões de Riesling ou Viognier. Para informação, “cowtipper” é o nome de uma brincadeira/mito, envolvendo uma vaca dormindo em pé e uma pessoa que tenta surpreender a vaca, empurrando-a para derrubá-la. Seria um mito, pois não se considera possível fazer isto.
2. Rosé La Juju, vinho rosado das castas Frontenac e Cayuga White. Também muito bom, 12º, não safrado, R$ 33,00.
3. Big Barn Red, castas Frontenac e Cabernet Sauvignon. Vinho leve, agradável, 13º, não safrado, R$ 38,00.
Em um segundo momento, foram apresentados três produtos, de sobremesa. Muito bons. Perguntou-se quais as castas, havendo respostas variadas. A surpresa foi a revelação de que dois produtos eram elaborados a partir da fermentação de maçâ (portanto, uma cidra doce) e da fermentação de cassis (black currant); a denominação de “vinho” para tais produtos é autorizada nos Estados Unidos. Nesta degustação, nenhum associado cogitou da possibilidade de não serem vinhos de uvas. Bem, ou os produtos são indistinguíveis, ou a peculiaridade dos produtos de Vermont induz à confusão, ou não entendemos nada de vinhos. Ou, lembrando daquela frase lapidar que apareceu nas últimas cenas de “Rocco e seus irmãos”…”ciamo tutii quadrupede”. Como sempre, degustações às cegas são lições de humildade. Os produtos, acompanhados de um delicioso prato de harmonização com queijo azul, torta de maçã, nozes e chocolate, foram os seguintes:

4. Vermont Ice Cider, maçãs das variedades Northern Spy, Macintosh, e Empire, 12º. Produção de 300 garrafas de 375 ml. Excelente produto, sem excesso de açúcar.R$ 66,00
5. Vermont Ice Wine, uvas da casta Le Crescent, 15º, produção de 300 garrafas de 375 ml, R$ 133,00. Excelente, foi identificado pelos degustadores como um ice wine, sem dificuldades. Houve quem lembrasse a casta Vidal.
6. Cassis, black currant wine, 15º, 375 ml, R$ 55,00. Ótimo produto.

A Ice Cider é um produto originalíssimo e de aparecimento recente. A produção iniciou no Quebec há alguns anos, e como o Ice Wine, é elaborada a partir de, neste caso, maçãs congeladas. O rendimento é baixo e muitas maçâs são necessárias para uma garrafa.
A casta Le Crescent foi criada na Universidade de Minnesota a partir de várias outras castas, assim como a Cayuga White e a Frontenac, ambas resultantes de cruzamento com híbridas, com o objetivo de criar variedades resistentes ao frio das regiões mais ao norte nos Estados Unidos e Canadá.
Mais uma vez, confrades apaixonados trouxeram vinhos de longe para o grupo, exemplo que merece nossos maiores elogios e agradecimentos.