A reunião de 4 de agosto de 2023 marcou a estréia como organizador do confrade Leandro Rovani, o que ocorreu em grande estilo, com bela degustação às cegas. Na ocasião foi distribuído o seguinte texto:

O terroir, para Jancis Robinson e Hugh Johnson, significa o ambiente total de crescimento e desenvolvimento das vinhas, incluindo aí terreno (solo e altitude), clima e, para alguns autores, tradição. Na tradição está contida a “mão do homem”, do “vigneron”, como dizem os franceses, bem como do enólogo local (um brinde às enólogas, como a minha favorita, Susana Balbo), que também podem ser parte desse conceito complexo.

O vinho é uma experiência pessoal, porque ninguém pode emprestar seu olfato, visão ou paladar a outrem, mas isso é parte de sua beleza, parte do encanto.

Dentre todos os aspectos visuais, olfativos e gustativos (ou até mesmo táteis) que compõem o vinho), a impressão de boca é uma das que mais chama a atenção. 

O volume de corpo do vinho na boca, seu peso de boca, bem como os taninos presentes no vinho tinto (redondos, rascantes, maduros, intensos ou amargos), são desses aspectos de boca que têm potencial para encantar ou repelir o degustador. Os taninos de boa qualidade também são importantes para legar capacidade de guarda ao vinho.

Hoje provaremos 6 vinhos de dois varietais diferentes. Dois deles são do mesmo país, castas diversas; os demais procurarão expressar seu terroir para se diferenciarem dos outros.

Hoje, convido as consórores, os confrades e convidados a perceberem, em boca, as distinções de corpo e taninos desses diferentes vinhos, as qualidades ou deméritos de cada um em tais aspectos, bem como a responder às seguintes questões:

1) Todos eles passam por madeira?

2) Qual é o mais tânico?

3) Há diferenças significativas de corpo entre eles?

4) Que castas foram utilizadas?

5) Naqueles de mesmo varietal, que diferenças foram proporcionadas pelos diferentes terroirs? 

Como dizem na Borgonha:

“Chevaliers de la table ronde

Goûtons voir si le vin est bon!”

Os vinhos degustados foram os seguintes:

  1. espumante Vero Brut método tradicional (Trebbiano, Chardonnay, Pinot Noir), 12,5°, Flores da Cunha, RS. Bom espumante, um leve toque de amargor no final. Produto da vinícola Bebber.
  2. Pizzato, Alicante Bouschet 2019, 13,5°. Belo vinho tinto do Vale dos Vinhedos, tradicional e raro produto da Pizzato, que desde 2003 tem produzido belos vinhos desta casta, com grande potencial de guarda. Foi identificado por alguns confrades!
  3. Herdade do Rocim, Indígena vinho orgânico, Vinho Regional Alentejano 2019 (Alicante Bouschet), 14°. Excelente vinho, mais seco e leve que o usual para os vinhos alentejanos, o que confundiu a identificação.
  4. Rigal, Original Malbec 2020 (Comté Tolosan Indication Géographique Protegée), 13°. Vinho que expressa a nova tendência dos Malbec franceses, tanto de Cahors quanto das regiões vizinhas, ou seja, vinhos mais frutados e com um pouco mais de estrutura, reflexo do esforço dos produtores locais para enfrentar a concorrência argentina.
  5. J. Bouchon, Block Series Malbec 2018 (Valle del Maule, Chile), 13,5°. Bom vinho, identificado como Malbec por vários confrades.
  6. Almaúnica, Malbec 2019 (Vale dos Vinhedos, RS), 13°. Um Malbec mais leve, foi considerado o melhor vinho da noite.
  7. Angelica Zapatam Malbec Alta 2016 (Mendoza, Argentina). Potente e típico Malbec argentino, identificado como tal pela maioria.

Em suma, um degustação às cegas muito instigante, iluminadora, mas não tão desconcertante, o que indica que estamos aprendendo algo, após tantas tentativas. Às vezes sim, o terroir se expressa e revela, e a SBAV indica o caminho!