O Sul da França tem uma diversidade de vinhos muito maior do que em geral se imagina. Uma belíssima abordagem foi proporcionada pelo confrade Jorge Ducati, que trouxe algumas garrafas de sua recente viagem àquele país. A degustação ocorreu em 25 de junho de 2015, para oito confrades, e na ocasião foi distribuído o seguinte texto:
Sul, porque são vinhos tanto do sudeste (costa mediterrânea), quanto do sudoeste (costa atlântica), ou mesmo do sul central. Enfim, liberdades geográficas que remetem às proximidades da fronteira com a Espanha, ou por ali. Destaque-se a variação da paisagem à medida que o viajante vai para Oeste: torna-se menos árida, mais verde, úmida. Os vinhos são frutos da paisagem. Ao sol mediterrâneo, capitosos; na moderação atlântica, buscam outras virtudes, o equilíbrio.
Esta percepção nos leva a paralelos com os vinhos da América do Sul. Os vinhos do sudoeste (Béarn, Jurançon, Madiran) lembram muito os da Serra Gaúcha, de paisagem similar; há os bons e os menos bons, em geral mais leves, com mais acidez. Indo para o Mediterrâneo (Languedoc, Roussillon), aumenta a concentração, o álcool, vão em direção aos vinhos andinos.
Com as variedades de uvas a Natureza tenta diminuir as diferenças. Nos brancos, vinhos de Gros e Petit Manseng em Jurançon, castas adaptadas à região, alcançam graus alcoólicos próximos ao que a Grenache Gris dá aos vinhos mediterrâneos; similarmente, os Tannat em Madiran confrontam os Grenache e Syrah do Pays d’Oc. Como fator adicional, nisto tudo, há a mediação da mão do vinhateiro.
Voilà. Vamos que interessa: uma seleção de vinhos representativos desta transição leste-oeste. Para rematar, algo do sul/centro, um pouco mais longe da Espanha.
1. Les Vignerons de Maury, Nature de Schiste (Grenache Gris), Côtes Catalanes Indication Géographique Protegée; 2014, 14°. Vinho do leste, mediterrâneo. Solos de xisto em desagregação, verões tórridos. Notas de degustação: um branco/gris espetacular! mineral, untuoso, muito original, pena que só veio uma garrafa. Preço: 7 euros.
2. Domaine Haugarot (Jean-Pierre Proharam), Jurançon sec (Appellation d’Origine Controlée) Camahor (80% Gros Manseng, 18% Petit Manseng, 2% Courbu). 2013, 13,5°. Quem conhece a paisagem da Serra Gaúcha, em Jurançon está em casa. Um belo vinho, redondo, muito bom; 7 euros.
3. Pech Rouge (Rouge Falaise), La Côte Revée, Aude Indication Géographique Protegée (Grenache, Syrah, Petit Verdot). 14°. Vinho dos Vignerons Independants do sudeste. Vinho do congresso GiESCO 2015. Excelente.
4. Vinifera Cuvée 2014. Vin du Pays d’Herault/Collines de la Moure (Languedoc-Roussillon). Domaine du Chapitre/SupAgro-INRA (Marselan, Syrah, Petit Verdot). 14,5°. Vignerons Independants; vinho elaborado para/por 32 estudantes de 20 países da Vinifera Euromaster, classe 2014-2016; muito bom, um pouco mais rústico; 7 euros.
5. Domaine de Gaston (Alain Dauriac), Armagnac (Bas Armagnac) AOC. Propriedade em Lannepax/Vic Ferenzac, antiga família gasconha. 1985, 42°, magnum (1,5 litro). Aguardente (brandy) produzido a partir de vinhos das variedades Folle Blanche, Colombard, Ugni Blanc, Baco e talvez outras. Neste caso, não se sabe mais; provavelmente domina a Folle Blanche. Um Armagnac espetacular, redondo, desce sem queimar, fundo de copo impressionantemente perfumado. Oportunidade única de degustar um produto raro. Garrafa comprada por 80 euros no restaurante Loft, em Eauze.

Destaque-se o acompanhamento providenciado para estes belos vinhos, uma ótima paella preparada pelo Tablado Andaluz; os associados foram perguntados sobre qual a melhor harmonização, se brancos ou tintos. Opiniões bem divididas, lembrando a controvérsia sobre qual vinho vai bem com bacalhau.