Em 6 de dezembro de 2024 a SBAV/RS se reuniu em torno de vinhos da casta Gamay, trazidos pelos confrades Leandro Rovani e Jorge Ducati. Na ocasião, foi distribuído o seguinte texto:
Sim, Beaujolais fica na Borgonha! No sul da região. A Gamay é permitida na Borgonha, embora seja o “patinho feio” e seja proscrita nas appellations mais afamadas (e caras). Vale citar o texto produzido por Arnaldo Grizzo, publicado pela Revista Adega de 18/10/2023:
No século XIV, um decreto da Borgonha deixou a variedade Gamay marcada com uma uva a ser evitada.
Para ser mais preciso, no dia 31 de julho de 1395, o duque da Borgonha escreveu que a Gamay era uma uva “muito ruim e muito desonesta” e mandou que todos que tivessem vinhas as extirpassem em no máximo cinco meses. (…)
Assim a variedade caiu em desgraça, mas não foi extinta. Ela ficou relegada à região de Beaujolais, na França, e se tornou a uva símbolo de lá; hoje vem ganhando espaço em outras partes e abandonando sua antiga fama.
A Gamay tende a dar vinhos bastante frutados e de corpo leve, especialmente quando feitos com o método de maceração carbônica (dos Beaujolais Nouveau), mas também podem apresentar mais estrutura como nos ótimos Crus de Beaujolais.
Em Beaujolais, os vinhos são assim categorizados, basicamente:
- Beaujolais Nouveau (ou Primeur): produzido a partir de maceração carbônica ou semicarbônica, com pouca extração, na produção de vinhos leves e cheios de frutas frescas, vindos, via de regra, de qualquer lugar de Beaujolais; são lançados no mercado poucos meses após a vindima;
- Beaujolais “genérico”: vinhos de qualidade muito variável e de baixa confiabilidade;
- Beaujolais-Villages: de 38 comunas, acresce o nome destas ao final, com mais rigor de produção e qualidade geralmente superior;
- Crus de Beaujolais: são as dez “jóias da coroa”, divididas nos terroirs de Brouilly, Chénas, Chiroubles, Côte de Brouilly, Fleurie, Juliénas, Morgon, Moulin-à-Vent, Régnié e St Amour. Cada um deles tem características específicas e expressam o melhor da Gamay.
Hoje provaremos um Beaujolais-Village (Louis Latour, Beaujolais Villages, 2021, ABV 13%) e Crus de três regiões, quais sejam:
Fleurie > Aroma floral, cultivo em granitos de cristal grande, gerando tintos leves e refrescantes, com sabores de frutos vermelhos. Pode envelhecer de 2 a 8 anos. Nosso exemplar será um Fleurie Origines, Domaine Grégoire Hoppenot, 2021, ABV 11,5%.
Moulin-à-Vent > Conhecido como “Rei do Beaujolais” pela idade, tamanho da appellation, concentração e longevidade dos vinhos, produzidos em terras ácidas e ricas em manganês, de cor mais intensa e aromas de flores e frutos maduros. Embora atinja o pico em 4 a 8 anos, as melhores garrafas podem durar duas décadas. Nosso exemplar será um Jean-Philippe Guillot, Moulin-à-Vent, 2022, Les Bois Maréchaux, ABV 13%.
Morgon > Uma das maiores e mais conhecidas apellations de Beaujolais. Os melhores vinhos provêm do Mont du Py. Solos de finas camadas de rocha fragmentada (conhecido como terre pourrie), rica em manganês, óxido de ferro e pirita, produzem vinhos estruturados, com aromas de cerejas e damascos, que duram de 4 a 20 anos. Nossos exemplares serão o Morgon Louis Latour, 2019, ABV 13%, e o Morgon Jean-Ernst Descombes (Georges Duboeuf) Côte du Py, 2020, ABV 13,5%.
Além desses vinhos, para enriquecer a experiência, provaremos o Gamay Rosé da Cantina Mincarone (Rosa Maria Minca 2023, ABV 12,5%) e o “Gamay Nouveau” Miolo Wild, 2024, ABV 12,5%, além de um espumante produzido no Brasil com a uva Gamay (Belmonte Differenziato Nature Rosé, 2023, ABV 11%) e do Baita PétNat Spumante Rosé Minca+Armonia (Itália) – ABV 10,5%, elaborado no Veneto, Itália, por Caio Mincarone, com as uvas Durella e Tocai Rosso, que é nada mais que a Grenache.
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Grande degustação, muito instrutiva. Destaques para o Côte du Py e para o Moulin.