Em reunião realizada em 26 de julho de 2012, organizada pelo confrade Paulo Mazeron, os associados puderam degustar belos vinhos da Argentina, acompanhados de muitas informações.
Quinto maior produtor mundial, a Argentina até 1990, tinha um consumo interno per capita anual, ao redor de algo como 90 litros, estando hoje por volta de 32 litros. O consumo, todavia, segue sendo um dos maiores, se não o maior per capita fora da Europa. Esse alto consumo sem qualquer exigência de qualidade resultava em vinhos de baixa qualidade a preços baixos. Com a crise que atingiu o país, as vendas despencaram e os produtores se viram forçados a buscar o mercado internacional que tinha um outro nível de exigência. Somente após este momento é que a Argentina realmente iniciou um projeto de desenvolvimento sustentável, de longo prazo, na industria de vinhos finos, e os vinhos ganharam qualidade. Com muito investimento local, e especialmente internacional, a indústria galgou degraus rapidamente em uma verdadeira revolução vinícola, com importante participação de Catena Zapata, produzindo vinhos com boa qualidade média a preços competitivos. Neste sentido, a principal região vinícola do país, Mendoza, se tornou uma Babel com enorme participação de produtores e capital francês, espanhol, chileno, português, americano, holandês, italiano, e austríaco.
Suas exportações aumentaram em mais de 20 vezes e está, hoje, disputando palmo a palmo com o Chile, a primazia de ser o maior exportador de vinhos para o Brasil, disponibilizando produtos de todo o tipo, qualidade e preço. Em 1992, somente 1% da produção era exportada enquanto hoje esse porcentual está beirando os 20 a 23%. São vinhos, fundamentalmente, produzidos em altas altitudes, acima de 850 metros e até 2000 metros, em regiões quentes e semi-áridas com pouquíssima chuva (quase desértica), com irrigação sendo efetuada com águas captadas nos Andes. Estas características geram vinhos com tendência a grande concentração de fruta, alto teor alcoólico e baixa acidez, provocando, em muitos casos, a necessidade de acidificação do vinho. Com o decorrer do tempo e necessidade de buscar novas terras com preços mais baixos e estudo de terroirs para determinados tipos de cepas, as fronteiras de Mendoza foram ultrapassadas e hoje se produzem vinhos de ótima qualidade em diversas outras regiões da Argentina, com uma diversidade de altitudes e climas como, por exemplo, na Patagônia.
Na Argentina, as regiões vinícolas localizam-se principalmente ao oeste, ladeando a Cordilheira dos Andes, onde a altitude para o cultivo é bem explorada. As principais regiões são:
Mendoza
A principal região vinícola concentra 70% da produção. Tem quatro subregiões de destaque: Luján de Cuyo e Maipú, no centro, e Vale de Uco e San Rafael, no sul.
Luján de Cuyo Uma das três áreas argentinas reconhecidas como Denominación de Origem (DO), abrange as províncias de Las Compuertas, Vistalba, Mayor Drummond, Chacras de Coria, Carrodilla, Perdriel, Agrello e Ugarteche. A altitude, acima de mil metros, a alta incidência de sol e a grande amplitude térmica são excelentes para produzir vinhos de sabores complexos e elegantes. É o berço da malbec (mas também têm destaque as uvas syrah, cabernet sauvignon, semillón e chardonnay) e abriga muitas das grandes vinícolas do país.
Maipú
Com clima mais quente e altitude de 800 m, os vinhos que levam malbec e cabernet sauvignon têm sabor marcan­te e voluptuoso. Compreende os distritos de Coquimbito, Beltrán, Lunlunta, Cruz de Piedra e Las Barrancas. Destaque tam­­bém para a bonarda, a tempranillo, a syrah e as brancas chardonnay e sémillon.
Valle de Uco
A cerca de 80 quilômetros da cidade de Mendoza, é uma das áreas vinícolas que mais cresce, com investimentos de companhias estrangeiras e emprego de técnicas modernas, e também com produções orgânicas e biodinâmicas. Em altitudes entre 900 e 1500 metros e com tempe­raturas mais amenas, as uvas de ciclo curto e médio, como merlot, pinot noir, malbec, sauvignon blanc, semillón e chardonnay, se destacam e rendem vinhos de maior acidez. Entre os depar­tamentos mais produtivos estão Tupun­gato, Tunyán, San Carlos, Vistaflores, Altamira, El Cepillo, El Peral e Gualtallarí.
San Rafael
Um pouco mais ao sul, a 150 quilômetros de Mendoza, foi a primeira região a obter o status DO. Tem altitudes mais baixas, entre 450 a 800 metros. A temperatura elevada, principalmente no verão, favo­rece a produção de malbec, syrah e caber­net sauvignon, entre as tintas, e a chenin blanc.
San Juan
Terra dos vinhos fortificados, é a segunda em produção (cerca de 22%). A viticultura se desenvolve principalmente nos Vales do Tulum, de Zonda e de Ullum, a quase 800 m de altitude, em um clima quente e seco atingido pelos fortes ventos. Há cultivos de torrontés e pequenas áreas de cabernet sauvignon, malbec e syrah, esta adotada como cepa emblemática e que diferencia San Juan de Mendoza. Em vales mais altos, como Pedernal e Calingasta, a temperatura mais baixa garante que as uvas chardonnay, sauvignon blanc, merlot e malbec amadureçam mais lentamente, resultando em vinhos mais discretos.
Salta
No norte (a mil quilômetros de Mendoza), a região – que com as províncias vizinhas de Tucumán e Catamarca faz parte dos vales Calchaquíes – é privilegiada pela grande altitude e abriga, em Cafayate, as vinícolas mais altas do mundo: San Pedro de Yacochuya, a 2000 metros, e Colomé, a 2300 metros. Tem dias quentes e noites frias, condição que, combinada com as chuvas escassas favorece o plantio da torrontés, que corresponde a 90% da cultura da região. Há também plantações de cabernet sauvignon e malbec que estão sendo revitalizadas, juntamente com syrah e tannat.
La Rioja
Não é grande produtora de rótulos finos, mas o calor abundante e a falta de chuva contribuem para a produção de vinhos frutados e fáceis de beber. Destaque para uma das três áreas DOs do país: o Vale de Famatina, que produz o Torrontés Riojano.
Patagônia (Rio Negro)
É a área mais nova em termos de exploração e a mais promissora, principalmente pelas características bem diferentes do restante da Argentina. A cerca de 650 quilômetros ao sul de Mendoza, os dias quentes e as noites frias da planície baixa (300 m) garantem um longo período de amadurecimento, perfeito para brancos refrescantes, como sauvignon blanc, torrontés, semillón e chardonnay, e tintos delicados, como os de pinot noir e malbec, além de malbec e syrah.

Principais uvas cultivadas na Argentina:
* Brancas: Chardonnay, Torrontés com especial ênfase nas regiões de Salta e La Rioja, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc.
* Tintas: Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo, Bonarda e, em uma menor participação mas em evolução, Pinot Noir e Syrah.

A Malbec é a mais emblemática das cepas Argentinas e originária da região de Bordeaux na França onde, fundamentalmente, é usada como assemblage (corte) na elaboração de vinhos de grande categoria e reconhecimento internacional. Aqui, superou suas origens e ganhou caráter e personalidade próprias, sendo muito usada como varietal e como corte em grandes vinhos. Geram vinhos de grande concentração de frutas, acidez moderada e taninos aveludados. No entanto, não é só de Malbec que se faz a reputação dos vinhos argentinos. O Cabernet Sauvignon tem lugar de destaque, a Tempranillo se acomodou muito bem na região e já produz vinhos muito bons, sem contar a Bonarda que começa a produzir vinhos de excelente qualidade. A Merlot ainda tem poucos rótulos de qualidade e a Pinot Noir e Syrah começam a produzir vinhos de qualidade em várias faixas de preço.
Nos brancos: a Torrontés gera vinhos excelentes nas regiões de Salta e La Rioja, a Chardonnay gera vários bons vinhos dignos de serem provados enquanto que a Sauvignon Blanc só agora começa a mostrar produtos de qualidade, em sua maioria produzidos nas regiões mais frias. São um total de cerca de 1200 vinícolas das quais, aproximadamente, 900 situadas na região de Mendoza.

Vinhos Degustados

1. Andeluna Malbec 2010 – aromas florais e de frutas, notas de baunilha e toques de doce de leite e chocolate. Sabor equilibrando estrutura e corpo, apresenta sensações adocicadas. Possui passagem de 6 meses em barris de carvalho francês e americano. GL: 14,5%. WE: 90 Pontos (2006).
2. Andeluna Reserve Malbec 2009 – aromas de frutas, como figos e cerejas, além de notas de baunilha, café e chocolate. Em boca, confirma as sensações olfativas com taninos suaves. Possui passagem de 12 meses em barris de carvalho francês. GL: 14,6%. WE: 92 Pontos (2003) – Top 100 Wine of the World.
3. Andeluna Cabernet Sauvignon 2009 – aromas de pimenta negra, frutas vermelhas e notas de tabaco e chocolate. Sabor equilibrado, encorpado e bem estruturado. Possui passagem de 6 meses em barris de carvalho francês e americano. GL: 14,7%. WE: 88 Pontos (2003).
4. Saurus Malbec 2007 (Patagônia) 14,5º
5. Newen Malbec 2010, Bodega Del Fin Del Mundo (Patagônia) 14,0º
6. Siglos Grand Cabernet Sauvignon 2008 15,2º.

Durante a reunião, os onze participantes foram estimulados a identificar quais os vinhos eram da uva Cabernet Sauvignon, quais procediam da Patagonia, quais os de maior gabarito, e qual o vinho que mais agradou. Como resultado, o Siglos foi considerado o melhor vinho, e o mais Cabernet. Não houve identificação de região.