Sempre é bom revisitar castas que são nossas velhas conhecidas, e em 3 de setembro de 2015 os confrades Ducati e Jandyra trouxeram alguns Syrah…novos (!!!) para degustação de dez confrades. Na ocasião, foi distribuído o seguinte texto:
A casta Syrah é adaptada a locais de verões quentes e longos, como sua região de origem no Ródano francês, ou no Alentejo. Em regiões mais frias o verão não é longo o suficiente para as uvas amadurecerem; talvez, com o aquecimento global, daqui a alguns anos dê para plantar Syrah em regiões como no vale do Reno, na Alemanha, mas por enquanto, não. A Syrah é um exemplo de adaptação a um certo tipo de terroir.
Mas o conceito de terroir inclui a componente humana, e a vontade de produzir vinhos de Syrah pode ser grande em regiões de climatologia peculiar. Por exemplo, no Centro/Sudeste do Brasil os verões tendem a ser muitíssimo chuvosos, e a uva madura apodrece. Mas os invernos são secos e com muito Sol, condições semelhantes ao do Ródano. Bem, só falta convencer a planta a transferir sua produção de frutos para o inverno. Isto é possível com várias soluções de tecnologia e manejo, e dentre as novas fronteiras vitícolas do Brasil estão Goiás, Minas Gerais e São Paulo, sem falar do Vale do São Francisco, conhecido aqui na SBAV.
É certo que aqui há uma complicação no conceito de terroir. Um Syrah “normal” pode ser comparado a um Syrah de inverno? Ou pelo menos, e talvez o que importa, os Syrah de inverno são bons? Se forem bons, a discussão se transfere para um nível mais transcendental sobre a Natureza e o Terroir. Bem, podemos filosofar enquanto provamos os vinhos:
1. Guaspari, Syrah Vista da Serra 2011, Espírito Santo do Pinhal, São Paulo, 14°. Empreendimento em região cafeeira na Serra Paulista, com 50 hectares de viníferas a mais de 1000 m de altitude.
2. Pirineus, Syrah Intrépido 2011 (13% Tempranillo), Serra dos Pireneus, Goiás, 14,5°. Produzido em Cocalzinho, próximo a Pirenópolis, a 900 m de altitude.
3. Surpresa xxx (às cegas). Safra 2011.
4. Miolo, Syrah Testardi 2012, Vale do São Francisco, Bahia, 14°. “Obstinação e persistência são o significado de testardi”, ou seja, cabeça dura. Teimar em produzir vinho bom no Sertão!
5. Luiz Argenta, Shiraz Jovem 2011, Serra Gaúcha, 12°. Outro vinho de controle, Syrah de verão e mais leve: dados os três Syrah anteriores, este está no grupo?
Degustação excelente! a boa surpresa foi o Guaspari (R$ 129,00 mais frete), vinho equilibrado e muito agradável…fora o preço!
O Intrépido confirmou o que percebemos na degustação de 17 de outubro de 2013. Vinho muito encorpado, talvez demais, talvez um pouco amargo. Mas bom produto, certamente valeu o esforço dos produtores.
O Testardi é nosso velho conhecido, prova líquida da viabilidade do Vale do São Francisco para vinhos bons.
o Syrah da Luiz Argenta, 2011, é um vinho leve, elaborado para ser bebido jovem…talvez esperar até 2015 tenha sido demais.
Finalmente, o vinho surpresa foi um Miolo Castas Portuguesas 2011. Excelente como sempre, um dos melhores vinhos nacionais. Interessantemente, um ou dois confrades acharam algo em comum entre este vinho e o Pirineus…o Tempranillo! o castas portuguesas tem 50% de Touriga Nacional, e 50% de Tinta Roriz, ou seja, Tempranillo.
Outra boa surpresa da noite foi o espumante de boas-vindas: um Weber Brut Chardonnay Champenoise, elaborado pela Vinícola Weber em Crissiumal, noroeste do Rio Grande do Sul. Muito bom, redondo e equilibrado. Produtores em todos os rincões gaúchos!