Vinhas por todas partes do Mundo…e cada vez mais! Foi o que constatamos, em uma amostragem trazida para sete degustadores na noite de 17 de outubro de 2013 pelo confrade Jorge Ducati. Na ocasião foi distribuído o seguinte texto, no qual já estão incluídos alguns comentários:
Que a uva cresce em muitos climas, é certo; também é certo que alguns climas são melhores, e a partir disto começam as considerações sobre terroir. Mas vinho é o resultado de relações complexas, incluindo o trabalho humano, além da parte física, e às vezes somos surpreendidos ao encontrar vinhos elaborados em regiões menos conhecidas e, mesmo, inesperadas. Uma dedicação extrema ao vinhedo, e técnicas de vinificação especiais, podem levar a vinhos bons, e muito bons, vindos de lugares pouco usuais.
Apresentamos vinhos de três regiões não familiares aos apreciadores.
A primeira é Rhode Island, estado da Costa Leste dos Estados Unidos. É o menor estado americano, e a área de vinhedos é minúscula. Clima úmido, favorável a doenças fúngicas. Mesmo assim, amantes do vinho insistem e persistem em toda a região, como vimos nas duas últimas semanas. Pequenas produções, consumo e comércio locais; mesmo em Nova Iorque é muito difícil encontrar. Mas indo atrás, algo se acha. Apresentamos dois vinhos:
1. Newport Vineyards (Middletown, RI) Riesling 2011, 12°, US16. O melhor vinho da noite; demi-sec, aromático, delicioso.

2. Newport Vineyards (Middletown, RI) Merlot 2011, 12°. Ao estilo dos vinhos de Long Island, que não fica longe. Leve, agradável.
Após mais esta demonstração da qualidade dos vinhos da costa leste norte-americana, não há mais dúvidas de que os habitantes da região poderiam muito bem sobreviver caso os californianos não enviassem mais seus produtos para o litoral atlântico!
A segunda região é a Normandia, na costa atlântica francesa. Na Idade Média, produziam-se vinhos ali; depois, as vinhas foram abandonadas, em prol de regiões mais favoráveis, e a bebida local mais famosa tornou-se o Calvados, feito a partir da maçã. Nos últimos anos, um “vigneron” fez renascer a tradição: Gérard Samson, em Grisy, perto de Saint-Pierre-sur-Dives. Seus vinhos tornaram-se famosos não tanto pela qualidade (embora sejam bons!), mas pelo ineditismo. Não é uma “appellation controlée” (ainda!), e a menção da casta de uva não é permitida na etiqueta. A palavra “arpent” é antiga e significa uma certa extensão de terra; o verbo “arpenter” significa trabalhar a terra. A partir de 2009 os rótulos já podem portar a menção “Indication Géographique Protegée” – IGP. Os vinhos:
3. Samson, Arpents du Soleil (Auxerrois Blanc 2008), Vin de Pays du Calvados, 13°, 15 euros. Garrafa de meio litro. Vinho seco, mais mineral, adequado para a gastronomia dos frutos do mar normando; esta casta germânica e alsaciana se deu muito bem no clima mais frio da Normandia.
4. Samson, Arpents du Soleil IGP (Pinot Noir 2009), Vin de Pays du Calvados, 13°, 15 euros. Garrafa de meio litro. Sabemos que esta casta é muito sensível às mudanças de terroir, e que muitas tentativas não são bem sucedidas. Neste caso, deu certo e temos um bom vinho, agradável e reconhecível como um Pinot Noir, mesmo que não tenha os bouquets da Borgonha.
Finalmente, a terceira região é Goiás, Brasil. O médico Marcelo de Souza, após conviver com a SBAV de São Paulo, voltou a Goiás e em Cocalzinho, na serra dos Pireneus, plantou quatro hectares de vinhedos. O clima é seco no inverno, e há inversão de ciclo vegetativo. Colhe-se em agosto, produção de umas mil garrafas por casta. As resenhas na Web são muito favoráveis. Os vinhos:
5. Pireneus, Intrépido Syrah 2010 (Serra dos Pireneus, Goiás), 14,5°. Vinho muito encorpado, de cor densa. No início bem fechado, demora para abrir. Opiniões divididas. Tem o estilo dos vinhos tropicais produzidos a partir de inversão de ciclo. Deve exigir longo tempo de guarda, felizmente temos mais garrafas para uma próxima degustação, em cinco anos… Preço alto, criticado pelos presentes: 77 reais com o frete.
6. Pireneus, Bandeiras Barbera 2011 (Serra dos Pireneus, Goiás), 15°. Mesmas características do anterior, com a particularidade de que não porta a típica acidez do Barbera, e tem a cor bem mais carregada daquela de um representante típico da casta. Preço muito alto: 97 reais, com o frete.
Certamente deve-se elogiar o trabalho feito pelos proprietários da Pireneus. Os vinhos estão no bom caminho e foram do agrado de vários confrades. Provavelmente exigem um bom tempo de aeração, pois notou-se uma boa evolução ao longo da degustação.