A Sauvignon Blanc, casta globalizada, começa a ser estudada analiticamente pelas Quintas da SBAV. Em reunião de 2 de maio de 2013, o associado Jorge Ducati apresentou alguns brancos para doze confrades, em degustação às cegas. Como sempre neste tipo de reunião, buscou-se a caracterização e a tipicidade. O texto distribuído foi o seguinte:

A Sauvignon Blanc é casta originária e típica das regiões de Bordeaux e Loire, na França, onde dá origem a vinhos famosos como, na Loire, o Sancerre e o Pouilly-Fumé, e em Bordeaux, a brancos de prestígio, sempre em corte com Semillon e em menor escala,coma Muscadelle.
É uma das castas globais, cultivada em toda parte. A pergunta, como sempre, é se há um terroir típico para os SB e se há um SB típico. Os enófilos mais habituados aos SB do Uruguai (e Argentina e Chile; Brasil?) sempre buscam a goiaba e o maracujá, tons que são pouco pronunciados nos SB da Loire, região mais fria (Sancerre, Pouilly-Fumé), cujos vinhos são mais minerais (« fumé » comunica a idéia de « queimado », originalmente vindo da pedra sílex; depois veio o tostado das barricas). Um SB puro de Bordeaux virtualmente inexiste. Em outros países europeus os resultados são variáveis. Parece haver uma relação do tipo “lugares mais quentes, mais fruta; lugares mais frios, mais mineralidade”. A altitude do vinhedo e a idade do vinho também influem, assim como o clone. Em geral, SBs devem ser bebidos jovens… mas nem sempre é assim.

Hoje, são servidos seis vinhos. Informações:
1. cinco são SB, um é de outras uvas;
2. somente um vinho é francês;
3. um vinho é brasileiro;
4. um vinho é uruguaio;
5. um vinho é de 2006.

Perguntas:
1. qual o melhor vinho?
2. qual o que não é SB?
3. qual o mais SB?

Os vinhos servidos foram os seguintes:

1. Villa Francioni, SB 2008 (São Joaquim, Brasil), 13,6°, R$ 72
2. Hacienda La Serrata, Fruto Noble SB 2010 (Alicante D.O., Espanha), 12°, R$ 41
3. Lavradores de Feitoria, Três Bagos SB 2010 (Vinho Regional Duriense, Portugal), 13°, R$ 70
4. Matarromera, Emina SB 2010 (Rueda D.O., Espanha), 13°, R$ 35
5. Jean-Luc Colombo, La Belle de Mai 2009 (Roussanne 80%, Marsanne 20%, Saint-Péray AOC, Rhône, France), 14°, R$ 110
6. Pizzorno, Don Prospero SB 2006 (Canelón Chico, Uruguai), 13°, RS 30

Os resultados foram muito interessantes! O vinho que mais agradou foi o português, elaborado pelos Lavradores de Feitoria. Trata-se de uma associação de dezoito (18) viticultores ou quintas, na maioria artesanais ou de pequeno porte, espalhados pelo Douro. Este Três Bagos SB vem de um vinhedo em Mateus (a exata propriedade histórica que teve uma relação com o vinho Mateus Rosé), próxima a Vila Real. Este vinho também foi considerado como o que é mais SB, dentro da percepção dos SB sul-americanos, ou seja, tons de frutas tropicais, goiaba, maracujá. A região de produção tem verões bem quentes, e alguma altitude. É um vinho raro, e muito bom; não conhecemos outro SB de Portugal.
Para surpresa geral, e mais uma lição de humildade, o vinho considerado “menos SB” foi o espanhol de Rueda, que também foi considerado como sendo o vinho francês. Ou seja, o francês do Ródano não foi detectado pela maioria! Contribuiu para esta confusão o fato que outros dois vinhos, que eram SB, não tinham muita tipicidade (aromas de frutas ou mesmo mineralidade): o uruguaio e o outro espanhol.
O vinho brasileiro, muito bom, não foi detectado como brasileiro, tendo votos, neste item, o vinho português e o Matarromera de Rueda.
O vinho espanhol do Alicante recebeu votos como o segundo melhor.
Por fim, o uruguaio de Pizzorno, embora tivesse sete anos, estava em boa forma, mesmo com aromas já tênues, pois no item cor era ainda bem claro. A maioria dos presentes opinou que o francês do Rhône era o mais velho, talvez levado pelo seu tom amarelado, que pode ser típico das castas empregadas, embora na boca e nariz estivesse bem vivo e agradável.
Em suma, nesta primeira abordagem (o projeto é termos outras) em Sauvignon Blanc, fica evidente a alta sensibilidade da cepa a fatores como clima, altitude, etc, ou seja, terroir. A idade parece não jogar a favor desta cepa, se o que se procura são os tons tropicais; no futuro, procuraremos ver o que acontece com a mineralidade.