A reunião das Quintas da SBAV/RS de 27 de abril de 2023 teve como tema a diversidade dos vinhos da variedade Gamay.

As primeiras referências à variedade vinifera Gamay datam do século XIV na Borgonha, onde há um village chamado “Gamay”, geralmente considerado como área de origem da variedade. A casta era de alto rendimento e de manejo mais fácil do que a Pinot Noir, levando no decorrer do século XIV a tensões que em 1395 levaram o Duque da Borgonha a ordenar que as plantas desta “vil e desleal variedade” fossem arrancadas da região da Côte d’Or. Estudos mais recentes, no entanto, sugerem que a questão era mais complexa, incluindo razões políticas. Por estes fatores, e possivelmente por afinidade com o solo ácido e granítico, a Gamay fixou-se mais para o sul, entre Mâcon e Lyon, na região do Beaujolais. Os vinhos Beaujolais tintos têm a seguinte categorização:

Beaujolais Nouveau: vinhos lançados no mercado poucas semanas após uma vinificação por maceração carbônica, onde as bagas não são prensadas e fermentam em ambiente rico em gás carbônico, resultando em vinhos frutados e com poucos taninos. Este tipo de vinho foi concebido pela indústria no final dos anos 50 para geração de renda logo após a vindima, e permaneceu em grande moda até há alguns anos. Vinhos leves, prontos para beber, mas sem estrutura e sem potencial de guarda,.

Beaujolais (e Beaujolais Supérieur): vinhos genéricos desta denominação de origem, já tendendo à vinificação semi-carbônica e mesmo convencional e com potencial de guarda de alguns anos.

Beaujolais Villages: vinhos provenientes de áreas delimitadas vizinhas a determinados villages, geralmente afastadas das zonas mais baixas de planície, podendo ter no rótulo a menção da origem. Podem ser encontrados na versão “nouveau”.

Crus Classés do Beaujolais: São dez: Chenas, Saint-Amour, Brouilly, Côte-de-Brouilly, Juliénas, Fleurie, Chiroubles, Régnié, Morgon, e Moulin-à-Vent; são denominações associadas a villages, colinas ou monumentos. Vinhos de maior prestígio, podendo ter  longa guarda, em especial nos casos do Morgon e do Moulin-à-Vent. Aqui na SBAV, Grupo das Quintas, tivemos ocasião de degustar alguns destes em 25 de maio de 2017.

Esta noite iremos degustar todas estas categorias; na impossibilidade de termos um Nouveau, dada a época, teremos um Gamay Novo da vinícola Miolo. Os vinhos são os seguintes:

  1. Miolo, Wild Gamay Nouveau 2023 (Campanha Meridional, Brasil), 14°. Vinho recém feito, muito parecido aos Nouveaux franceses. Um pouco doce, mas agradou a todos. Sem SO2, sem leveduras adicionadas, seria quase um vinho natural.
  2. Raoul Clerget, Beaujolais AOP 2018, 13°. Típico Beaujolais, leve, bom vinho.
  3. Georges Duboeuf, Beaujolais-Villages AOP 2020, 13,5°. Já um pouco mais frutado, ótimo vinho.
  4. Domaine Pierre Savoye, Morgon Vieilles Vignes Climat Côte du Py 2007, 12,5°. Excelente, aveludado, demonstrando que os cru do Beaujolais podem, sim, ser de guarda longa.

Como espumante do boas-vindas, tivemos um ótimo Nero Alvarinho, que surpreendeu a todos pela originalidade, aroma e sabor frutados e acidez correta.