As harmonizações dos vinhos com diferentes pratos são, muitas vêzes, controversas. Com bacalhau, por exemplo, alguns preferem tintos, e outros apreciadores, brancos. A feijoada é outro caso em que alguns excêntricos preferem brancos secos. Já o caso do mocotó é mais complicado, pois é prato detestado por alguns, e adorado por outros. Nada melhor que uma degustação dedicada à questão. Em 30 de agosto de 2012, nosso confrade Paulo Mazeron trouxe à sede o conhecido Rei do Mocotó, Sérgio Bassotti, que preparou seu prato para nove destemidos confrades, que por via das dúvidas, levaram os costumeiros pães e queijos. Mas tudo se passou muito bem, pois o prato estava muito bem preparado, leve, com pouca gordura, e extremamente palatável. Em suma, muito bom.
Os vinhos, selecionados por Jorge Ducati: foram servidos brancos Viognier de quatro países, e variações em torno da uva Baga, da lusa Bairrada, a saber:

1. Filipa Pato, Espumante Bruto 3B (Baga, Bical), Bairrada (?), 12,5º, R$ 40,00. A casta Bical, branca, é típica da Bairrada, assim como a tinta Baga. 3B pode querer dizer Baga, Bical, Bairrada, onde a menção da região de origem, Bairrada, neste espumante, parece não ser autorizada. Rosé, muito bom, certamente harmoniza com o prato.
2. Mont Gras, Viognier Limited Edition 2002, Colchagua, 14º, R$ 70,00. Vinho elaborado a partir das uvas do bloco 165 da Mont Gras, e ao que parece, não mais produzido. Vinho excelente, muito vivo, mesmo com dez anos.
3. RAR, Viognier Collezione 2010, Campos de Cima da Serra, 13º, R$ 52,00. Vinho produzido pela associação da Randon com a Miolo, de parreirais situados a 1000 m de altitude. Excelente, seco, foi o segundo na apreciação dos brancos.
4. Lulu Island, Viognier 2010, Okanagan Valley, Canadá, 14,5º, R$ 80,00. O vale de Okanagan fica a uns 300 km do Oceano Pacífico, na província canadense de British Columbia. É região semi-árida, com centenas de vinícolas, entre as quais a Lulu Island. O nome é como se chama a ilha ao sul de Vancouver, onde está a localidade ou subúrbio de Richmond. Esta vinícola cultiva as uvas em Okanagan, e as vinifica em Richmond, Lulu Island, Vancouver. Vinho ótimo, peculiar com respeito aos outros Viognier, pois é bem mais aromático e um pouco mais doce.
5. Andre Perret, Chery Condrieu AOC 2007, 14,5º, R$ 150,00. Condrieu é uma « appellation » emblemática para os vinhos brancos da uva Viognier da região do Ródano, na França. Este vinho vem de um dos melhores produtores, e tem sido visto como sendo até melhor que o famoso “Chateau Grillet”, também da mesma uva. Elegante, foi considerado o melhor branco da noite.
6. Luis Pato, Fernão Pires (Fernão Pires 94%, Baga 6%) 2011, Reg. Beira Atlântico, 12º, R$ 30,00. A casta branca Fernão Pires também é chamada Maria Gomes. Este vinho é quase um “noir de blancs”, pois foi elaborado com 94% de uvas brancas Fernão Pires, às quais se juntaram 6% de cascas da uva Baga, casta muito tinta. Da região da Bairrada, agradou muito, vinho leve.
7. Quinta das Bágeiras, Reserva 2007 (Baga 60%, Touriga Nacional 40%), Bairrada, 14º, R$ 62,70. Vinho da vinícola de Mario Sérgio Alves Nuno, considerado um dos melhores vinhateiros de Portugal e, a despeito da pouca idade, pioneiro e batalhador da renovação dos vinhos da Bairrada. Vinho de elaboração clássica e com pisa em lagares de cimento. Mais encorpado, excelente.
Também foi servida, na entrada, uma sidra elaborada pelo Sanjo, de São Joaquim, Ice Sin Charmat (maçãs Gala e Fuji), 11,5°. Servida às cegas, recebeu comentários “este espumante está alterado”, antes da revelação; após, julgado bem palatável, de fato é uma boa sidra, talvez a melhor já produzida no país.
E a harmonização? Resultados a seguir:
Luis Pato, quatro votos;
Quinta das Bágeiras, três votos;
Mont Gras, dois votos;
Condrieu, um voto.