A reunião do Grupo das Quintas, desta vez, ocorreu numa segunda-feira… em 25 de novembro de 2019, com a presença dos confrades das segundas, Jaime Martins e Nilva Guterres, e dos quinteiros contumazes. Foi a segunda degustação da série “Safras boas e safras ruins”, organizada por Jorge Ducati, desta vez com vinhos da Serra Gaúcha. Repetimos aqui o texto introdutório:

A noção de safra boa ou ruim, em particular na viticultura, está associada à variabilidade climática de uma determinada região. Em regiões de clima mais estável, e portanto mais previsível, como em áreas do Chile e Argentina, há épocas de chuvas e épocas mais secas; nestes dois casos a época seca coincide com a época de maturação das uvas, e tudo fica mais fácil para a viticultura. Não há grande diferença entre as safras sucessivas. Há um caso inverso, no Sudeste do Brasil, onde a época seca coincide com o inverno; neste caso, a viticultura (como na Serra da Mantiqueira) adota a inversão de ciclo, para ter uvas fora do período de chuvas.

Mas em Bordeaux, na Borgonha, e no Rio Grande do Sul não é assim. Há verões secos e verões muito chuvosos, e a qualidade das uvas varia em função disto. Há safras boas e safras ruins, chegando-se a extremos. No Rio Grande do Sul, safras historicamente memoráveis foram 1991, 1999, 2005, 2012 e 2018. E safras para esquecer foram 2003 e 2010. Note-se que em outras atividades agrícolas a percepção é contrária. Anos ruins para a viticultura são ótimos para soja e milho.

Em algumas regiões de viticultura muito antiga existe a noção, não unânime, de que os grandes vinhos, mesmo sendo de anos ruins, sempre acabam por encontrar um equilíbrio e uma grande qualidade, dados anos suficientes. Talvez no futuro esta tese possa ser testada nos vinhos gaúchos.

Para a degustação de hoje selecionamos por pares do mesmo produtor alguns vinhos gaúchos de safras boas e ruins. Tentando evitar um efeito de diferenciação devido à idade nos vinhos, procuramos vinhos de safras próximas, para que as diferenças sejam o mais possível apenas função da safra, ou seja, na maturação e sanidade da fruta, refletindo-se nos vinhos na concentração e cor, taninos, acidez e teor de álcool. Os vinhos são os seguintes:

  1. Almaúnica, Quatro Castas 2010 (Syrah 34%, Merlot 22%, Malbec 22%, Cabernet Sauvignon 22%), Vale dos Vinhedos, 14°.
  2. Almaúnica, Quatro Castas 2012 (Syrah 15%, Merlot 35%, Malbec 35%, Cabernet Sauvignon 15%), Vale dos Vinhedos, 14°.
  3. Pizatto, Egiodola 2010, Vale dos Vinhedos, 13°.
  4. Pizatto, Egiodola 2012, Vale dos Vinhedos, 13°.

Tratam-se de vinhos de duas safras próximas, mas de condições climáticas muito diferentes. Os vinhos considerados melhores foram os 2012, mais redondos; o Almaúnica 2010 foi considerado ainda bastante ácido. O efeito safra, portanto, foi verificado. No entanto, para todos os oito degustadores os vinhos 2010 estavam bastante bons. Note-se que os vinhos gaúchos da safra 2010 pouco apareceram no mercado, tendo talvez uma destinação menos nobre. Mas o tempo, neste caso, foi benigno e agora, para quem guardou, estes vinhos estão bons.