Na reunião da SBAV/RS, Grupo das Quintas, de 17 de agosto de 2023 tivemos alguns vinhos canadenses e americanos, trazidos de lá pelo confrade Jorge Ducati, por ocasião de sua recente visita à Cornell University em Ithaca para participar do congresso 22nd GiESCO (Group of International Experts for Cooperation on Vitivinicultural Systems), seguida de viagem à região de Niagara no /Canadá. Foi distribuído o seguinte texto:

A região dos Grandes Lagos, entre Canadá e Estados Unidos, tem condições difíceis para a viticultura devido aos invernos rigorosos e verões úmidos. O projeto de ali fazer vinho fez com que viticultores esforçados tenham conseguido superar estes obstáculos, através de adaptações como: o uso de variedades de uvas americanas, naturalmente adaptadas ao clima local; a criação de variedades híbridas entre americanas e viníferas; e a escolha de variedades de viníferas de ciclo curto e maturação precoce. Um grande mercado local de apreciadores sustenta a vitivinicultura regional, somente uma pequena parte da produção sendo exportada. Aqui estamos nos referindo à produção na península de Niagara, em Ontario; ao longo dos dois lados do Lago Erie; e ainda, um pouco para o interior do Estado de New York, na região dos Finger Lakes, também de origem glacial. Os desafios atuais (não só na região!) são as variações climáticas (um problema para os “icewines”) e a necessidade de reduzir o uso de defensivos agrícolas. Neste contexto o papel de institutos de pesquisa e de associações de produtores têm sido vital, com destaque para a Universidade de Cornell, no Estado de New York, e para a Vintners Quality Alliance, em Ontario.

Nesta noite iremos degustar um espumante canadense, um tinto canadense de uvas híbridas, um icewine, e outros vinhos da região, exemplos do sucesso da viticultura nos Grandes Lagos.

Os vinhos foram os seguintes:

  1. Trius Winery, Trius Brut méthode traditionnelle (Pinot Noir, Chardonnay), região de Niagara-on-the-Lake, VQA Niagara Peninsula, 12°. Surpreendente espumante canadense, excelente, equilibrado, para vários confrades o melhor vinho da noite.
  2. Pelee Island Winery, Vinedressers Pinot Noir 2018 (VQA South Islands, Ontario), 13°. Outra surpresa, legítimo Pinot Noir, de novo, para vários confrades, o melhor da noite.
  3. Inniskillin, Baco Noir Discovery Series 2021 (VQA Ontario), 13°. Como consta no texto acima, há um esforço dos produtores para produzir vinhos nas condições locais de frio e umidade; a Baco Noir é uma boa opção, sendo uma casta tinta híbrida (Folle Blanche e uma vitis riparia) bem adaptada à região. Ou seja, o vinho é bom, tem tons violáceos que lembram o Gamay, acidez adequada com taninos baixos, e nenhum traço de foxado.
  4. Hillick & Hobbs, Riesling 2019 (Seneca Lake, Finger Lakes, New York, USA), 12,5°. Um Riesling como poucos. Tudo de bom neste vinho, o aroma certo, a dose certa de TDN, o equilíbrio. Novamente, talvez o melhor da noite.
  5. 21 Brix Winery, Gruner Veltliner 2021 (Portland, Lake Erie, New York, USA), 12°. Ótimo vinho desta casta característica da Áustria, neste caso mantendo a tipicidade da variedade como a mineralidade e a acidez relativamente alta. Um exemplo de como produzir bons vinhos nas margens americanas do Lago Erie, numa região onde a opção mais economicamente viável segue sendo a produção em massa de vinhos de híbridas como a Concord.
  6. Château des Charmes, Icewine Cabernet Franc 2018 (VQA Niagara-on-the-Lake), 9,5°. Garrafa de 375ml. Raro, excepcional, um privilégio. Equilíbrio total. Numa noite de gratas surpresas, de novo o melhor vinho da noite.

O comentário geral foi de que as regiões visitadas esta noite produzem excelentes vinhos, que só não são mais conhecidos porque, talvez, o volume de produção seja pequeno.