Fiel a milenar tradição (ou seja, começou no segundo milênio), as Quintas realizaram em 9 de março de 2017 sua GRAAQ (Grande Reunião de Abertura Anual das Quintas), desta vez dedicada a vinhos brancos, dada a persistência dos calores estivais. Fervorosos confrades acorreram ao chamado de nossa coordenadora Jandyra, para degustar os seguintes vinhos:
1. Lorentz, Crémant d’Alsace blanc (Pinot Noir, Pinot Blanc, Chardonnay). Produto de confiança da Alsácia; os Crémants, na Alsácia, são os únicos vinhos que contém Chardonnay, uma concessão que em nosso entender seria perfeitamente dispensável, dada a excelência dos vinhos elaborados com uvas mais típicas da região. De qualquer modo, é um ótimo espumante.
2. Cova do Frade 2015 (Encruzado, Cerceal Branco, Malvazia Fina), Dão, Portugal (12,5°). Um dos melhores brancos portugueses degustados nos últimos tempos. A R$ 60 na Charbonnade, de nosso amigo Humberto (Negrinho), é uma ótima abordagem para os vinhos portugueses. Certamente porta, como a vasta maioria dos brancos portugueses elaborados com os varietais autóctones, um certo amargor que é mais sentido por alguns degustadores, menos por outros. Mas isto não é defeito, sendo além disto um dos fatores a serem levados em consideração quando se planeja a devida harmonização.
3. Manuscrito 2014, casta Hondarrabi Zuri, Txakoli de Álava D.O., Espanha. Este vinho faz parte de um projeto animado por enóloga espanhola de valorização de castas locais e regiões tradicionais menos conhecidas. Neste caso, uma variedade do país basco. Vinho branco austero. Ou seja, poucos aromas e pouco gosto; algum amargor. Custou a se abrir, para alguns confrades não se abriu. Uma harmonização possível seria com pratos campesinos à base de carnes mais fortes. O vinho não é ruim, ao contrário, mas talvez nesta noite tenha sido prejudicado pela presença de brancos mais agradáveis. Um problema adicional foi o preço, a R$ 150 foi o vinho mais caro da noite.
4. Luiz Porto, Chardonnay 2012, 13,5°. Vinho branco da região de Cordislândia, Minas Gerais, Brasil. Foi uma das boas surpresas da noite. Embora não porte claramente os traços da casta Chardonnay, é um vinho bem equilibrado na relação acidez x álcool, agradável de beber. Mais uma prova de que os vinhos de Minas Gerais, com sua produção de ciclo invernal, estão assumindo um lugar na vitivinicultura nacional. A R$ 60 estão um pouco caros, mas ninguém é perfeito.
5. Viu Manent, Chardonnay 2007, Valle de Colchagua, Chile, 14,5°. Vinho servido às cegas, para homenagear e confundir nosso amigo Niels Bosner, importador da Viu Manent no Brasil. Ninguém chegou perto da identificação do vinho. Segundo o Humberto da Charbonnade, que guarda um estoque deste e de outros vinhos brancos velhos, o vinho é um néctar. É verdade. Cor dourada, ao nariz tons de nozes, avelã e mel. Vinho inteiríssimo, e isto que não é um “reserva”. Ainda pode ser guardado alguns anos. O preço na Charbonnade é de R$ 120, mas a barganha opera milagres. A grande surpresa da noite, ou seja, aos poucos vai caindo o mito de que vinhos brancos não se guardam. O que ocorre, mais frequentemente, é que vinhos brancos em geral evoluem mais rápidamente, e se transformam; um branco velho em geral não está estragado, mas sim evoluído, e deve-se apreciá-lo e harmonizá-lo à luz desta realidade.
6. Viu Manent, Cabernet Sauvignon Single Vineyard La Capilla 2012, Valle de Colchagua, Chile, 14°. Grande vinho, destinado à fruição agora e ainda durante muitos, muitos anos.