Em bons vinhos, dois fatores parecem competir na formação do caráter: o terroir e o estilo do vinhateiro. Os adeptos mais ferrenhos do conceito de terroir são enfáticos em afirmar que, para vinhos de uma mesma região de terroir emblemático, o terroir tem a expressão dominante, mesmo se diferentes enólogos tentam impor seu estilo aos vinhos de sua elaboração. A Borgonha é o caso mais claro desta crença quase religiosa: um Montrachet será um Montrachet, com seus descritores advindos do terroir, independentemente do produtor e do vinhateiro. A aferição desta crença requer um considerável esforço em obter vinhos e degustá-los.
Mas o papel do vinhateiro pode ser estudado em outros contextos. Por exemplo, se o estilo de elaboração sobrevive a mudanças de terroir. São raras as oportunidades de testar esta hipótese, e nas Quintas da SBAV tivemos o privilégio de viver a experiência, graças ao esforço do confrade Paulo Mazeron, que em 23 de maio de 2013, para nove confrades, trouxe três vinhos portugueses de diferentes regiões, todos elaborados pelo renomado vinhateiro Rui Reguinga. Neste caso a degustação não foi às cegas, e os vinhos foram os seguintes:
1. Terrassus 2009 (Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz), Douro, 14º;
2. Terrenus 2009 (Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet), Alentejo, 14º;
3. Rui Reguinga 2009 Touriga Nacional, Dão, 14º.

Todos os vinhos foram julgados excelentes.
Na opinião unânime dos degustadores, os três vinhos eram bastante parecidos no nariz e na boca. Como é frequente, o alentejano estava, para alguns, mais redondo, e o Dão, com taninos um pouco mais pronunciados. Ficou claro, para todos, que o estilo de elaboração teve o domínio sensorial.
Foi perguntado qual o melhor vinho, e qual o menos bom. O resultado foi algo desconcertante. O terceiro vinho, do Dão, recebeu quatro votos como o melhor vinho, e três votos como o menos bom. O Terrenus, do Alentejo, recebeu quatro votos como o melhor, e um voto como o menos bom; e o Terrassus, do Douro, um voto como o melhor, e três votos como o menos bom. Uma dispersão, portanto, que mostra como são diversas as percepções de nuances, quando os vinhos degustados estão em um patamar semelhante de excelência.
O estilo tem importância? ficou claro que sim.